quinta-feira, 3 de junho de 2010

Presente de grego






Com as asas que foi de Ícaro

Presenteou-me o Sol

Presente de grego esse

Serviu-me por isca num anzol


Me lancei daquele pico

Nem mesmo comprei gelol

Só faltou nascer-me bico

E cantar igual a rouxinol


Voei como não voam os frangos

Crente de que era alguém

Alguns gritavam: é um anjo!

Outros diziam amém


Senti-me um poeta romântico

Um condor aventureiro

Sobrevoei o Oceano Atlântico

Sobrevoei quase o mundo inteiro


Até que me fisgou o anzol

Ao notar que era um dia quente

Resolvi voar até o sol

Agradecer pelo tal presente


E não foi por vaidade

Que resolvi voar tão alto

Valorizo a amizade

Só queria mostrar-me grato


Mas o Sol incomodado

Por querer chegar tão perto

Pensou que eu fosse abaná-lo

Querendo ser mais esperto


E mandou um calor danado

Muitos raios de uma só vez

O que me mantinha colado

Com o calor, logo se desfez


Pensei: “Esse sol é ridículo!”

E quer repetir a história

O mesmo que fez a Ícaro

Quer fazer comigo agora


Pensa rápido! Pensa rápido!

Pensa rápido! Pensa agora!

Agarrei, do sol, alguns raios

Trancei e fiz deles corda


Vou subir e apagar esse sádico

Metido a astro e fanfarrão

Vou vingar todo solo árido

Que castiga o meu sertão


O sol já beirava o Mar

Encarnando o oceano

Tentei convencê-lo a nadar

Foi aí que tive outro plano


Vou mijar nesse sol safado

Apagar o seu fogo, espero

Mijei e saí dele a nado

Deixando o sol amarelo.


(Yussef Kalume)

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