Com as asas que foi de Ícaro
Presenteou-me o Sol
Presente de grego esse
Serviu-me por isca num anzol
Me lancei daquele pico
Nem mesmo comprei gelol
Só faltou nascer-me bico
E cantar igual a rouxinol
Voei como não voam os frangos
Crente de que era alguém
Alguns gritavam: é um anjo!
Outros diziam amém
Senti-me um poeta romântico
Um condor aventureiro
Sobrevoei o Oceano Atlântico
Sobrevoei quase o mundo inteiro
Até que me fisgou o anzol
Ao notar que era um dia quente
Resolvi voar até o sol
Agradecer pelo tal presente
E não foi por vaidade
Que resolvi voar tão alto
Valorizo a amizade
Só queria mostrar-me grato
Mas o Sol incomodado
Por querer chegar tão perto
Pensou que eu fosse abaná-lo
Querendo ser mais esperto
E mandou um calor danado
Muitos raios de uma só vez
O que me mantinha colado
Com o calor, logo se desfez
Pensei: “Esse sol é ridículo!”
E quer repetir a história
O mesmo que fez a Ícaro
Quer fazer comigo agora
Pensa rápido! Pensa rápido!
Pensa rápido! Pensa agora!
Agarrei, do sol, alguns raios
Trancei e fiz deles corda
Vou subir e apagar esse sádico
Metido a astro e fanfarrão
Vou vingar todo solo árido
Que castiga o meu sertão
O sol já beirava o Mar
Encarnando o oceano
Tentei convencê-lo a nadar
Foi aí que tive outro plano
Vou mijar nesse sol safado
Apagar o seu fogo, espero
Mijei e saí dele a nado
Deixando o sol amarelo.
(Yussef Kalume)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Complete...