Indispostas de tão ocupadas
Ou culpadas por tantas desculpas
Ou com rugas de tão preocupadas
Ou vermelhas com tanta vergonha
Após zombarem de quem ainda sonha
Ao matarem a quem pedia ajuda
E fugirem de quem não foge à luta
Sou filho da pátria?
Ou sou filho da puta?
Por manterem todos no sufoco
Com uma mão dá um toque
Com a outra, dá um toco
E roubarem de quem já tem pouco
Uma mão dela bole
A outra mão dá um bolo
Pelos filhos teus que ignoram
Com uma mão me afagam
Com a outra, me afogam
Por fazerem pouco dos que choram
Com uma mão me agarram
Com a outra, me agouram
Mãe gentil foi a que me pariu
Deste solo, não tenho meu chão
Natureza não é um gigante pulmão
Mas, farmácia pra quem dela USA
Por viverem iguais à sanguessuga
Presa à pulga, cujo ganha-pão
Vem às custas duma vida de cão
E um patrão que dela sempre abusa
Por manterem todos no sufoco
Com uma mão dá um toque
Com a outra, dá um toco
E roubarem de quem já tem pouco
Uma mão dela bole
A outra mão dá um bolo
Pelos filhos teus que ignoram
Com uma mão me afagam
Com a outra, me afogam
Por fazerem pouco dos que choram
Com uma mão me agarram
Com a outra, me agouram
(Yussef Kalume)
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