Tempo que não volta
Temo, atento, tanto tempo
Que passou e tento
Fazê-lo mudar
Tempo que difama a história
Polui a memória
Chama-me de escória
E me faz chorar
Tempo, que me foi escada
Que me foi abismo
Que viu o cinismo
Clamar por verdade
Viu passar minha idade
Ficar mais sabido
Mudar não é permitido
Por favor me mate
"O que aqui se faz
É aqui que paga"
O que já se fez
Ninguém mais apaga
Muda o passado
Que é tão maldito
Estou arrependido
Estou apaixonado
Se o que já fui
Vem-me como fardo
Vou rumo à cova
Sem sair do parto.
Avante amor,
Vamos mudar o rumo desta nossa vida
Dar um grande "adeus" a quase toda a despedida
Fazer do abraço, um bom remédio para a dor
Ver a grandeza desta história ser mantida.
Acordar, inda poder viver o sonho
Ou perceber: não foi um sonho, mas verdade
Deixar o amor acompanhar a nossa idade
Por isso tudo, minha mão, no fogo, ponho
Ver o sorriso assassinar o olhar tristonho
Tornar a nudez a nossa grande vaidade
Rodar o mundo e ter o mundo pela frente
Surpreender-nos, dia-a-dia, mais um pouco
Serás velhinha e, mesmo assim, ficarei louco
O tempo é coisa que quase não se sente
Enquanto puder contemplar-te em minha mente
E a gente superar a tudo que é sufoco.
(Yussef Kalume)
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