quinta-feira, 3 de junho de 2010

Rapsódia de Marijuana

Marijuana

Disse para a Rosa

Que ela só não fala

Porque é cheirosa


E a bela Rosa

Embora perfumada

Nunca foi amada

Por ser receosa


Sem muita prosa

Cobriu-se de espinhos

Tingiu-se com vinho

E, hoje, apenas chora


Marijuana

Disse: “Estou cansada”

“Ela é perfumada

Mas tô indo embora”


Mal deu partida

Viu a Margarida

Um tanto amargurada

Um tanto sofrida


Sem espinhos

E tão colorida

Todo mundo arranca

Todo mundo pisa


Marijuana

Ouviu toda a história

Por horas e horas

“Pobre Margarida”


Comovida

Disse: “Nossa Senhora!”

“Desejo melhoras

Mas tô de partida”


“Essas flores

Que enfeitam as cidades

São cheias de dores

E de vaidades”


“Vou fazer

Novas amizades

Antes que me queimem

Por pura maldade”


E pra si mesma

Disse Marijuana:

“Vê se desencana

Ainda não é tarde”


E foi em busca

De sua raiz

Qual uma aprendiz

Em plena flor da idade


Rumo ao pasto

Conversar com os lírios

“Nossa, que delírio!

Como são tão belos”


Vivem pouco

Mas cheios de riso

Seguem o mesmo rito

De alguns cogumelos


Viu que o pasto

Inda era perto

Da grande cidade

De vasos e prédios


Disse adeus aos lírios

Num tom sério

Hoje nascem em vales

Depois, em cemitérios


E foi ao deserto

Visitar um cacto

Fez com ele um pacto

Que abriu-lhe uma porta


Deu uma volta

Mas que dia de sorte!

Encontrou o Peyote

Pajé da maloca


E veio a Coca

Como uma louca

Mordendo a própria boca

Muito furiosa


Com a Mandioca

Que não tem sua “ína”

Mas tem sua farinha

E sua tapioca


O que deixou

A Mandioca, brava

“Não sou Macaxeira

Eu não cheirei nada!”


E Marijuana

Um tanto esfomeada:

“Se é Macaxeira, eu como

Mas Mandioca mata”.

(Yussef Kalume)

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