Marijuana
Disse para a Rosa
Que ela só não fala
Porque é cheirosa
E a bela Rosa
Embora perfumada
Nunca foi amada
Por ser receosa
Sem muita prosa
Cobriu-se de espinhos
Tingiu-se com vinho
E, hoje, apenas chora
Marijuana
Disse: “Estou cansada”
“Ela é perfumada
Mas tô indo embora”
Mal deu partida
Viu a Margarida
Um tanto amargurada
Um tanto sofrida
Sem espinhos
E tão colorida
Todo mundo arranca
Todo mundo pisa
Marijuana
Ouviu toda a história
Por horas e horas
“Pobre Margarida”
Comovida
Disse: “Nossa Senhora!”
“Desejo melhoras
Mas tô de partida”
“Essas flores
Que enfeitam as cidades
São cheias de dores
E de vaidades”
“Vou fazer
Novas amizades
Antes que me queimem
Por pura maldade”
E pra si mesma
Disse Marijuana:
“Vê se desencana
Ainda não é tarde”
E foi em busca
De sua raiz
Qual uma aprendiz
Em plena flor da idade
Rumo ao pasto
Conversar com os lírios
“Nossa, que delírio!
Como são tão belos”
Vivem pouco
Mas cheios de riso
Seguem o mesmo rito
De alguns cogumelos
Viu que o pasto
Inda era perto
Da grande cidade
De vasos e prédios
Disse adeus aos lírios
Num tom sério
Hoje nascem em vales
Depois, em cemitérios
E foi ao deserto
Visitar um cacto
Fez com ele um pacto
Que abriu-lhe uma porta
Deu uma volta
Mas que dia de sorte!
Encontrou o Peyote
Pajé da maloca
E veio a Coca
Como uma louca
Mordendo a própria boca
Muito furiosa
Com a Mandioca
Que não tem sua “ína”
Mas tem sua farinha
E sua tapioca
O que deixou
A Mandioca, brava
“Não sou Macaxeira
Eu não cheirei nada!”
E Marijuana
Um tanto esfomeada:
“Se é Macaxeira, eu como
Mas Mandioca mata”.
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